No passado dia 24 de Junho, durante as comemorações do Dia do Concelho, foi apresentado publicamente, pela Audax (um centro de investigação que promove o empreendorismo), um modelo de financiamento e gestão do futuro Museu do Jurássico.
E que modelo propõe a Audax para o futuro Museu do Jurássico da Lourinhã?
A construção de um Parque Jurássico de natureza científica mas também lúdica, capaz de atrair, anualmente, 230.000 visitantes.Ou seja, o que a Audax veio fazer foi atestar os objectivos que tinham sido propostos pela Coligação Novos Rumos (PSD/CDS-PP), liderada por Raul Leitão, durante a campanha eleitoral: a construção de um Parque Jurássico que seja uma «âncora» turística e um importante pólo de desenvolvimento regional, capaz de atrair mais de 200.000 visitantes anuais que façam entrar divisas no Concelho da Lourinhã.
Estou, naturalmente, inteiramente de acordo no que respeita aos objectivos. Assinalo, aliás, com muita satisfação que, agora, muitos autarcas do PS concordam com estes objectivos e julgam-nos realistas.
Todavia, o mesmo não se pode dizer no que respeita à forma e ao modelo de concretização do projecto. Com efeito:Relativamente ao modelo de financiamento e gestão que foi, concretamente, apresentado pelo Audax (e já não quanto aos objectivos - esses, sim, me parecem acertados) não posso deixar de sublinhar algumas preocupações:
1. O que foi apresentado no Dia do Concelho foi tão só, e apenas, um projecto (ademais, um projecto que ainda nem sequer foi aprovado pela Câmara) - que está confinado ao modelo de financiamento para a construção e gestão do futuro Museu. Nada mais do que isso.
2. Aliás, não pode deixar de se registar que, volvidos tantos anos desde o momento que nasceu a ideia de construir um novo Museu do Jurássico - nos meados dos anos noventa -, só agora a Câmara Municipal esteja a definir um modelo de financiamento que tenha «pernas para andar». Por aqui se vê que o executivo camarário não tem encarado o Museu do Jurássico como uma prioridade.
3. Sobre o modelo de financiamento e gestão apresentado tenho, ainda, de dizer que, à primeira vista, o mesmo me pareceu demasiado dispendioso: (i) prevê-se a remuneração da Audax a valores elevados e (ii) está desenhada uma estrutura social pesada, com muitos administradores - o que não só me parece desnecessário como, suspeito, acarretará muitos custos.
É certo que nunca - como hoje - houve tantas verbas destinadas à concretização de projectos com a natureza do Museu do Jurássico da Lourinhã e, por isso, este se torna mais facilmente exequível. Com efeito, a construção do Museu do Jurássico pode vir a beneficiar do facto do QREN 2007-2013 (Quadro de Referência Estratégico Nacional) assumir como prioridade estratégica, justamente, a qualificação, a valorizando o conhecimento, a ciência, a tecnologia e a inovação.Mas, infelizmente, parece-me que a Câmara Municipal da Lourinhã não se soube preparar devidamente, ao longo do tempo, para «agarrar», convenientemente, esta oportunidade. É que, por esta altura, devia estar tudo pronto. A Câmara devia estar apenas, em colaboração com o GEAL, a desenvolver esforços para garantir o financiamento da obra. No entanto, em muitos aspectos estamos ainda no começo (projecto financeiro e de gestão por definir e aprovar, negociações quanto à propriedade dos terrenos onde se irá localizar o Museu por fazer, etc.).
Não quero com isto dizer que não acredite, pessoalmente, que a construção do Museu se tornará uma realidade. Eu acredito. Quero, tão só, afirmar que a construção do mesmo estará, provavelmente, mais longe do que aquilo que todos desejaríamos, o que é fruto, em grande medida - uma vez mais - da ausência de inscrição do Museu do Jurássico da lista de prioridades da Câmara e de alguma impreparação do executivo. Com este atraso, infelizmente, iremos todos perder.
Filipe Matias Santos
Publicado no jornal Alvorada, dia 2007-10-19 às 11:15:07